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Capítulo 12: Capítulo 12

Página 71

O Mosteiro da Virgem Dolorosa estava situado numa encosta, no topo da extrema ramificação oriental das que a dilatada cordilheira dos Nervásios estende para o lado dos campos góticos. A pouca distância do vale onde se viam as ruínas de Augustóbriga, caminho de Légio, no meio de uma solidão profunda, aquela silenciosa morada de virgens inocentes achava-se convertida em praça de guerra. Edifício sumptuoso, construído no tempo de Recaredo, as suas grossas muralhas de mármore pareciam, na verdade, quadrelas de castelo roqueiro; porque na arquitectura dos Godos a elegância romana era modificada pela solidez excessiva do edificar germânico ou saxónio, que os rudes visigodos do tempo de Teodorico e de Ataulfo haviam introduzido no Meio-Dia da Europa. Os restos dispersos das tiufadias da Galécia tinham-se encerrado em todas as povoações e lugares fortificados ou por qualquer modo defensáveis, e os habitantes dos povoados, acolhendo-se aí com eles, deixavam desertas as suas moradas, incertos do dia em que veriam reluzir ao longe as lanças dos agarenos, que já devastavam o Norte da Lusitânia e parecia encaminharem-se para o lado de Tude. Os muros fortíssimos daquele vasto edifício, as suas portas tecidas de ferro e carvalho, as estreitas frestas, que apenas lhe deixavam penetrar no interior uma luz duvidosa, os tectos ameados e, finalmente, os fossos profundos que o circundavam, tudo o tornava acomodado para larga defensão. Com algumas decanias de veteranos que no meio do terror pudera ajuntar, o quingentário Atanagildo havia-se acolhido aí, e com ele um grande número dos mais abastados habitantes daqueles contornos. Protegido pelas vizinhanças das serras das Astúrias, ainda livres, Atanagildo cria que o mosteiro seria sempre inexpugnável barreira contra a violência e cobiça dos árabes. Entretidos em submeter e pôr a saco as opulentas cidades do Meio-Dia, contentes com as veigas feracíssimas da Bética, da Lusitânia e da Cartaginense e com o sol quase africano que as aquecia, que viriam eles buscar nas brenhas intratáveis e frias da Galécia e da Cantábria! Seriam, apenas, alguns troços dos inquietos e selvagens bereberes os que se derramavam por estas partes; mas, contra esses, eram de sobra os tiros de catapulta arrojados das torres do mosteiro e as cateias e frechas despedidas dentre as ameias que lhe cingiam a fronte, como a coroa de um rei gigante, e que não podiam ser derribadas pelos manguais brutescos, únicas armas dos broncos e seminus montanheses do Atlas.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 71

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176