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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 42

Francisco Bragadas, o timorato pescador de chumbeira, despe- dindo-se do moleiro, com certas apreensões agoirentas, teria dado trinta passos rio abaixo com a rede já enrolada, quando ouviu no recanto escuro ou angrazinha da corrente, que espraiava para dentro de um algar, o choro abafado de uma criança. À primeira esfriou de medo; mas esperou a reacção do bom senso. Pé ante pé, acercou-se do lugar sombrio de onde vinha a toada incessante daquele ríspido chorar. Ele, que era pai de muitos pequenitos, não podia confundir os vagidos de um menino com os guinchos das desdentadas bruxas, as quais, por via de regra, costumam cacarejar casquinadas de riso quando lavam nas claras águas das ribeiras os seus indecentes arcaboiços.

Estendendo a mão, tocou na face tépida da criança. O berço quedara-se enleado na ramagem de um salgueiro vergado pelo peso de uma rede ou pardelho, como lá dizem, que dali, atado nele, atravessava para a margem da Ínsua, – um bosque de choupos assim chamado. As bóias arfadas pela corrente chofravam nos flancos do berço. Francisco Bragadas exclamou levantando a canastrinha:

– Oh! Pobre menino! Atiraram-te ao rio! Ainda eu mais verei neste mundo! – E, apalpando-lhe o corpo por baixo do saiote, disse maravilhado: – E nem sequer está húmido! Isto é milagre!

Como a chumbeira lhe pesava, escondeu-a em uma lura do valado, e deitou a correr para casa, com o berço debaixo do braço.

A mulher de Bernardo, sentada à porta da cozinha, embalava uma filha com o pé, enquanto amamentava a mais nova.

– Cá tens mais um, mulher! – disse ele, quando a avistou.

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Capa do livro Maria Moisés
Páginas: 86
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