Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 26: CAPÍTULO XIV

Página 143
CAPÍTULO XIV

Imagine, senhor redator, em que lamentável estado de espirito nós ficámos. Lord Grenlei encerrou-se no seu camarote, eu e o capelão ficámos velando junto do cadáver. A tarde descia. Uma nevoa extensa cobria o mar. O rugido do vento era lúgubre. Todos estavam profundamente apiedados. A velhos marinheiros, que tinham naufragado no mar da India e dobrado o Cabo, eu vi saltarem lágrimas…

- Pobre criança! diziam eles.

Para aquelas rudes naturezas simples, essa mulher nova, vestida de branco, palidamente linda, era a miss, a virgem, a criança! Um arranjou-lhe uma coroa de algas secas, e foi piedosamente pôr-lha sobre o peito. Era o ramo de flores do mar.

Eu pensei algum tempo em conduzir o corpo de Carmen até Espanha, mas o piloto observou-me que teríamos ainda 4 ou 5 dias de viagem, e o corpo não podia esperar na sua pureza durante esta longa demora. Por isso resolvemos deita-lo ao mar, quando viesse a noite. Assim, ficámos o capelão e eu, durante a tarde, junto do cadáver, lembrando as suas belezas e as suas desgraças.

A noite caiu; cobriu as águas. O capelão desceu. Fiquei só. Havia sobre o cadáver, pendente de uma corda, uma lâmpada. Descobri-lhe o rosto, afaguei-

lhe os cabelos. A sua beleza tinha-se fixado numa imobilidade angelica, como se a morte lhe tivesse restituído a virgindade. A curva adorável do seu seio aparecia em relevo na bandeira que a cobria: nunca tanta força tinha produzido tanta graça! Olhei-a durante muito tempo, enlevado na sua contemplação. As lágrimas caíam-lhe dos olhos.

- Pobre criatura! dizia eu na solidão dos meus pensamentos, pobre criatura! vais para a mais profunda das covas, para a sepultura errante das águas. Uma febre de amor consumiu-te na vida, uma tempestade eterna te agitará na morte! Condiz o túmulo com a existência! Como o mar tu foste bela, orgulhosa e ruidosa.

<< Página Anterior

pág. 143 (Capítulo 26)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Mistério da Estrada de Sintra
Páginas: 245
Página atual: 143

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CARTA AO EDITOR, 1
PRIMEIRA PARTE - EXPOSIÇÃO DO DOUTOR
CAPÍTULO I
5
CAPÍTULO II 10
CAPÍTULO III 14
CAPÍTULO IV 18
CAPÍTULO V 25
CAPÍTULO VI 30
CAPÍTULO VII 37
SEGUNDA PARTE - INTERVENÇÃO DE Z.
CAPÍTULO I
44
TERCEIRA PARTE - DE F… AO MÉDICO
CAPÍTULO I
50
CAPÍTULO II 56
CAPÍTULO III 60
QUARTA PARTE - NARRATIVA DO MASCARADO ALTO
CAPÍTULO I
79
CAPÍTULO II 85
CAPÍTULO III 91
CAPÍTULO IV 94
CAPÍTULO V 102
CAPÍTULO VI 108
CAPÍTULO VII 113
CAPÍTULO VIII 118
CAPÍTULO IX 123
CAPÍTULO X 125
CAPÍTULO XI 130
CAPÍTULO XII 134
CAPÍTULO XIII 138
CAPÍTULO XIV 143
CAPÍTULO XV 149
QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
154
CAPÍTULO II 163
CAPÍTULO III 165
CAPÍTULO IV 170
CAPÍTULO V 182
CAPÍTULO VI 187
SEXTA PARTE - A CONFISSÃO DELA
CAPÍTULO I
190
CAPÍTULO II 195
CAPÍTULO III 197
CAPÍTULO IV 204
CAPÍTULO V 208
CAPÍTULO VI 213
CAPÍTULO VII 217
CAPÍTULO VIII 221
CAPÍTULO IX 226
CAPÍTULO X 231
SÉTIMA PARTE - CONCLUEM AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
236
CAPÍTULO II 240