Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 7: Capítulo 7

Página 162
VII

No Ramalhete, depois do almoço, com as três janelas do escritório abertas bebendo a tépida luz do belo dia de março, Afonso da Maia e Craft jogavam uma partida de xadrez ao pé da chaminé já sem lume, agora cheia de plantas, fresca e festiva como um altar domestico. Numa facha oblíqua de sol, sobre o tapete, o Reverendo Bonifácio, enorme e fofo, dormia de leve a sua sesta.

Craft tornara-se, em poucas semanas, íntimo no Ramalhete. Carlos e ele, tendo muitas similitudes de gosto e de ideias, o mesmo fervor pelo bric-à-brac e pelo bibelot, o uso apaixonado da esgrima, igual diletantismo de espírito, uniram-se imediatamente em relações de superfície, fáceis e amáveis. Afonso, por seu lado começara logo a sentir uma estima elevada por aquele gentleman de boa raça inglesa, como ele os admirava, cultivado e forte, de maneiras graves, de hábitos rijos, sentindo finamente e pensando com rectidão.

Tinham-se encontrado ambos entusiastas de Tácito, de Macaulay, de Burke, e até dos poetas lakistas; Craft era grande no xadrez; o seu carácter ganhara nas longas e trabalhadas viagens a rica solidez de um bronze; para Afonso da Maia «aquilo era deveras um homem». Craft, madrugador, saía cedo dos Olivais a cavalo, e vinha assim às vezes almoçar de surpresa com os Maias; por vontade de Afonso jantaria lá sempre; - mas ao menos as noites passava-as invariavelmente no Ramalhete, tendo enfim, como ele dizia, encontrado em Lisboa um recanto onde se podia conversar bem sentado, no meio de ideias, e com boa educação.

Carlos saía pouco de casa. Trabalhava no seu livro. Aquela revoada de clientela que lhe dera esperanças de uma carreira cheia, activa, tinha passado miseravelmente, sem se fixar; restavam-lhe três doentes no bairro; e sentia agora que as suas carruagens, os cavalos, o Ramalhete, os hábitos de luxo, o condenavam irremediavelmente ao diletantismo. Já o fino dr. Theodosio lhe dissera um dia, francamente: «você é muito elegante pra médico! As suas doentes, fatalmente, fazem-lhe olho!

<< Página Anterior

pág. 162 (Capítulo 7)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 162

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605