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Capítulo 5: Capítulo 5

Página 98
V

No escritório de Afonso da Maia ainda durava, apesar de ser tarde, a partida de whist. A mesa estava ao lado da chaminé, onde a chama morria nos carvões escarlates, no seu recanto costumado, abrigada pelo biombo japonês, por causa da bronquite de D. Diogo e do seu horror ao ar.

Esse velho dandy, - a quem as damas de outras eras chamavam o «Lindo Diogo», gentil toureiro que dormira num leito real - acabava justamente de ter um dos seus acessos de tosse, cavernosa, áspera, dolorosa, que o sacudiam como uma ruína, que ele abafava no lenço, com as veias inchadas, roxo até à raiz dos cabelos.

Mas passara. Com a mão ainda tremula, o decrepito leão limpou as lágrimas que lhe embaciavam os olhos avermelhados, compôs a rosa de musgo na botoeira da sobrecasaca, tomou um golo da sua água chazada, e perguntou a Afonso, seu parceiro, numa voz rouca e surda:

- Paus, hein?

E de novo, sobre o pano verde, as cartas foram caindo num daqueles silêncios que se seguiam às tosses de D. Diogo. Sentia-se só a respiração assobiada, quase silvante, do general Sequeira, muito infeliz essa noite, desesperado com o Vilaça seu parceiro, rezingão, e com todo o sangue na face.

Um tom fino retiniu, o relógio Luiz XV foi ferindo alegremente, vivamente, a meia noite; - depois a toada argentina do seu minuete vibrou um momento e morreu. Houve de novo um silêncio. Uma renda vermelha recobria os globos de dois grandes candeeiros Carcel; e a luz assim coada, caindo sobre os damascos vermelhos das paredes, dos assentos, fazia como uma doce refracção cor de rosa, um vaporoso de nuvem em que a sala se banhava e dormia: só, aqui e além, sobre os carvalhos sombrios das estantes, rebrilhava em silêncio o ouro de um Sevres, uma palidez de marfim, ou algum tom esmaltado de velha majólica.

- O que! ainda encarniçados! exclamou Carlos que abrira o reposteiro, entrava, e com ele o rumor distante de bolas de bilhar.

Afonso, que recolhia a sua vasa, voltou logo a cabeça, a perguntar com interesse:

- Como vai ela? Está sossegada?

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 98

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605