- Tirei umas semanas de férias. Se te sentares um segundo vou já ter contigo. Vou tomar um duche.
Quando desapareceu na casa de banho os olhos escuros do visitante vaguearam nervosamente pelo quarto, parando por um momento num grande saco de viagem inglês posto num canto e numa colecção de camisas de seda grossa espalhadas pelas cadeiras por entre belas gravatas e peúgas de lã macia.
Gordon levantou-se e, pegando numa das camisas, examinou-a por um momento. Era de seda muito pesada, amarela e com uma risca azul-clara - e havia quase uma dúzia delas. Sem querer, mirou os punhos da camisa - estavam rotos e esfiapados nas bordas e vagamente cinzentos de sujos. Deixando cair a camisa de seda, puxou as mangas do casaco para baixo e dobrou os punhos gastos da camisa até já não ficarem à vista. Depois foi ao espelho e mirou-se com um olhar apático e triste. A gravata, que já fora uma beleza, estava desbotada e amarrotada - já não servia para esconder as casas desfeitas do colarinho. Pensou sem alegria que, apenas três anos antes, fora largamente votado na universidade como o homem mais bem vestido da aula.
Dean surgiu da casa de banho esfregando o corpo. - Ontem à noite vi uma velha amiga tua - observou. - Passei por ela na entrada, mas não consegui lembrar-me do nome. Aquela rapariga com quem andaste no último ano em New Haven.
Gordon estremeceu.
- A Edith Bradin? Referes-te a ela?
- Essa mesmo. Está bem gira. Ainda parece uma bonequinha. Estás a ver o género: se se lhe toca, ela desfaz-se.
Satisfeito consigo, mirou no espelho a sua imagem perfeita e sorriu vagamente, mostrando parte dos dentes.
- Em todo o caso Já deve ter vinte e três anos continuou.
- Fez vinte e dois no mês passado - disse Gordon com ar ausente.