Do seu trono de ouro, Juno, rainha das densas, observava o movimento das tropas helénicas. Desagradava-lhe ver que os seus protegidos perdiam terreno e que Neptuno pouco podia fazer, pois Júpiter mantinha-se atento na sua posição estratégica no monte Ida. Começou, então, a engendrar um plano para o distrair. Entrou no seu camarim, banhou o corpo todo com ambrósia e pôs no rosto óleo divino e perfumado. Ficou lindíssima, tal como era nos tempos de sua mocidade. Penteou os cabelos, enlaçando-os com fios de ouro. Em seguida, escolheu o mais belo dos seus vestidos e com ele se ataviou, prendendo-o com alfinetes de pedras preciosas. Colocou nas Grelhas um par de brincos cintilante e cobriu a fronte com um véu lindíssimo, leve como a espuma do mar. Depois, contemplou-se num espelho: estava realmente encantadora e irresistível. Em seguida foi procurar Vénus, a deusa do amor, a quem disse:
— Querida filha, queres prestar-me um grande auxílio, apesar de estares zangada comigo porque gosto mais dos gregos e protejo-os?
Respondeu-lhe a filha de Júpiter:
— Fala, esposa do deus poderoso, pois não te posso recusar nada, desde que esteja ao meu alcance.
Com simulada intenção, Juno prosseguiu:
— Dá-me os teus filtros de amor, com os quais sabes domar os deuses e os mortais. Preciso de fazer uma visita de amizade ao Oceano e a Tétis, mãe dos deuses. Eles sempre foram muito gentis para comigo e agora andam os dois em desarmonia, sem grandes probabilidades de se voltarem a entender. Se as minhas palavras tivessem o dom de os unir novamente, ficar-me-iam eternamente agradecidos. Mas isso não será possível, a menos q me dês os filtros mágicos.