Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 4: O dedo de Deus

Página 123
O dedo de Deus

Entre a barreira de Itália e a de Santé, na avenida interior que conduz ao Jardim das Plantas, existe uma perspectiva digna de encantar o artista ou o viajante, mesmo o mais indiferente. Subindo-se a um ligeiro promontório, a partir do qual a avenida sombreada por árvores enormes segue com a graça de um caminho florestal verde e silencioso, vê-se à frente mesmo de nossos pés um vale profundo, povoado de oficinas meio rústicas mostrando aqui e além alguma verdura, regado pelas águas escuras do Bi e dos Gobelins. Na vertente oposta, alguns milhares de telhados, juntos como as cabeças de uma multidão, ocultam as misérias do bairro Saint-Marceau. A magnífica cúpula do Panteão, o zimbório embaciado e melancólico do Vai-de-Grâce, dominam orgulhosamente toda uma cidade em anfiteatro, cujos degraus são desenhados esquisitamente pelas ruas tortuosas. Daí, as proporções dos dois monumentos parecem gigantescas; esmagam as frágeis habitações e as mais altas árvores do vale. À esquerda, o Observatório, através de cujas janelas e galerias passa a claridade, produzindo inexplicáveis fantasias, aparece como um espectro negro e descarnado. Mais longe, a elegante lanterna dos Inválidos brilha entre as massas azuladas do Luxemburgo e as torres cinzentas de Saint-Sulpice. Vistas dali, essas linhas arquitetônicas misturam-se com a folhagem e a sombra, são submetidas aos caprichos do céu, que muda incessantemente de cor, de luz ou de aspecto. Ao longe, os edifícios mobíliam o espaço; em volta, serpenteiam árvores ondulantes, estradas rurais. À direita, por um recorte dessa paisagem singular, avista-se a longa superfície branca do canal de Saint-Martin, emoldurado de pedras vermelhas, enfeitado de tílias e rodeado dos armazéns estatais, construções verdadeiramente romanas.

<< Página Anterior

pág. 123 (Capítulo 4)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Mulher de Trinta Anos
Páginas: 205
Página atual: 123

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Primeiros erros 1
Sofrimentos desconhecidos 75
Aos trinta anos 98
O dedo de Deus 123
Os dois encontros 138
A velhice de uma mãe culpada 190