Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 4: O dedo de Deus

Página 124
No último plano, as vaporosas colinas de Believilie, cobertas de casas e moinhos, confundem seus acidentes com as nuvens. Todavia, existe uma cidade, que não se vê, entre a fila de telhados que cercam o vale e esse horizonte tão vago como uma recordação da infância; cidade imensa, perdida como numa voragem entre os altos do hospital de la Pitié e do cemitério do Leste, entre o sofrimento e a morte. Faz ouvir um murmúrio surdo, semelhante ao do oceano que ruge por detrás de uma penedia como para dizer:

Estou aqui. O sol lança seus jorros de luz sobre essa face de Paris, purificando-lhe as linhas, pondo seus reflexos nos vidros, alegrando os telhados, abrangendo as cruzes douradas, branqueando os muros e transformando a atmosfera num véu de gaze. Formam-se grandiosos contrastes com as sombras fantásticas; se o céu está de um lindo azul, se os sinos dobram, então admira-se dali uma dessas magias eloqüentes que a imaginação jamais esquece, de que se fica idólatra, apaixonado como por um maravilhoso aspecto de Nápoles, de Istambul ou das Flóridas. Não falta nenhuma harmonia a esse concerto. Ali murmuram o ruído do mundo e a poética paz da solidão, a voz de um milhão de seres e a voz de Deus. Ali jaz uma capital repousada sob os tranqüilos ciprestes do Père-Lachaise.

Numa manhã de primavera, no momento em que o sol fazia brilhar todas as belezas dessas paisagens, eu as admirava encostado a um grande olmeiro cujas flores o vento agitava. E, ao aspecto desses soberbos e sublimes quadros, pensava amargamente no desprezo que nós franceses professamos, até nos livros, pelo nosso país de hoje. Amaldiçoava esses pobres ricos, que, desgostados da bela França, vão comprar a peso de ouro o direito de desdenhar da pátria, visitando a galope, examinando através de um binóculo os pontos dessa Itália tornada tão vulgar.

<< Página Anterior

pág. 124 (Capítulo 4)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Mulher de Trinta Anos
Páginas: 205
Página atual: 124

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Primeiros erros 1
Sofrimentos desconhecidos 75
Aos trinta anos 98
O dedo de Deus 123
Os dois encontros 138
A velhice de uma mãe culpada 190