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Capítulo 4: CAPÍTULO 2

Página 22
CAPÍTULO 2

Decorrido um mês, eu e Ricardo éramos não só dois companheiros inseparáveis, como também dois amigos íntimos, sinceros, entre os quais não havia mal-entendidos, nem quase já segredos.

O meu convívio com Gervásio Vila-Nova cessara por completo.

Mesmo, passado pouco, ele regressou a Portugal.

Ah! como era bem diferente, bem mais espontânea, mais cariciosa, a intimidade com o meu novo amigo! E como estávamos longe do Gervásio Vila-Nova que, a propósito de coisa alguma, fazia declarações como esta:

- Sabe você, Lúcio, não imagina a pena que eu tenho de que não gostem das minhas obras. (As suas obras eram esculturas sem pés nem cabeça, pois ele só esculpia torsos contorcidos, enclavinhados, monstruosos, onde, porém, de quando em quando, por alguns detalhes, se adivinhava um cinzel admirável.) Mas não pense que é por mim. Eu estou certo do que elas valem. É por eles, coitados, que não podem sentir a sua beleza.

Ou então:

- Creia, meu querido amigo, você faz muito mal em colaborar nessas revistecas lá de baixo… em se apressar tanto a imprimir os seus volumes. O verdadeiro artista deve guardar quanto mais possível o seu inédito. Veja se eu já expus alguma vez… Só compreendo que se publique um livro numa tiragem reduzida; e a 100 francos o exemplar, como fez o… (e citava o nome do russo chefe dos selvagens). Ah! eu abomino a publicidade!…

As minhas conversas com Ricardo - pormenor interessante - foram logo, desde o início, bem mais conversas de alma, do que simples conversas de intelectuais.

Pela primeira vez eu encontrara efetivamente alguém que sabia descer um pouco aos recantos ignorados do meu espírito - os mais sensíveis, os mais dolorosos para mim. E com ele o mesmo acontecera - havia de mo contar mais tarde.

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Capa do livro A Confissão de Lúcio
Páginas: 93
Página atual: 22

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
A CONFISSÃO DE LÚCIO 1
PREFÁCIO 2
CAPÍTULO 1 4
CAPÍTULO 2 22
CAPÍTULO 3 40
CAPÍTULO 4 51
CAPÍTULO 5 57
CAPÍTULO 6 64
CAPÍTULO 7 81
CAPÍTULO 8 90