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Capítulo 10: IX - Filosofia do Gabiru

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IX - Filosofia do Gabiru

Ter os mesmos direitos que as árvores e os bichos à imortalidade humilha-me, e fazendo-me humilde torno-me melhor, mais irmão do que é pequeno e desgraçado.

Só as criaturas que sofrem é que são dignas de viver, e na verdade são as únicas que vivem.

No tempo infinito e no espaço limitado as moléculas agregam-se, desagregam-se... Só química, só a química existe... As moléculas, que têm em si a força vital, são hoje árvore, amanhã animal, pedra, homem.

Conforme o quê? o que é que as modela?...

Eis-me: eu fui e continuarei a ser neste oceano trágico o que o acaso determinar, conforme as minhas moléculas, amanhã desagregadas, se unirem a outras mais tarde... Tenho vivido até aqui – continuarei assim pela eternidade.

Quando pois me chegar a vez de ser homem. Hei-de viver: quero viver da minha própria vida; quero que fale dentro em mim o universo que eu já fui –a pedra que eu já fui – a árvore que eu já fui – o bicho humilde que eu já fui...

A tua opinião?... De que me serve? E é ela tua, sente-la bem tua, ou é aprendida, falsa, vinda de outros homens que me querem esmagar?...

Qual deve ser o meu fim? Deixar falar todo o universo que compõe o meu ser, deixá-lo pregar com a sua voz rouca – com a sua própria voz e não com a tua.

Se eu trago ódio, deixai-me ser o Ódio; se eu trago riso, deixai-me ser o Riso.

O momento é único, não vale perdê-lo. Por que acaso, por que fúria insana, depois de que rebeldias, de que horas ou séculos de aguilhão, de desespero e raiva, estas moléculas, perdidas num oceano maior que o atlântico, tornarão a ser, se chegarão a reunir para terem a consciência do Universo? E agora vens tu, homem, e queres emudecê-las com as tuas leis, as tuas teorias, os teus sonhos.

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Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 63

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154