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Capítulo 11: X - História do Gebo

Página 67
X - História do Gebo

Ele aí vai aos tropeções, amachucado e ridículo – e as lágrimas no seu carão espantado só nos fazem rir.

Empurra-o a Vida, atira-o, estatela-o no lajedo, aflito, sem mão que o ampare e de cabelos brancos estacados.

Gritam-lhe:

– Ó Gebo! ó Gebo!...

Não há que ter piedade dos fracos. A própria natureza os repele do seu seio.

Faltava-lhes tudo, tudo se esfarrapava no seu lar.

Dormiam em enxergas no chão, nessas noites de frio inverno. O que mais lhe custava era ver a filha horas e horas a cismar. Em quê?... Por ela é que se batia ainda com o destino. E quase não tinha pão para lhe dar!

A mulher clamava:

– Mas trabalha! tu não trabalhas!... Tu o que és és um mandrião. Olha os outros como furam, como sobem...

Tu és um estúpido! Na vida é preciso ter-se muita finura.

Quem é assim não se casa!

– Ó mulher, a gente quando cai nunca mais se levanta.

E afinal caíra para sempre, sem energia e sem forças, prostrado. A sua vontade seria deitar-se e nunca mais acordar. Correra tudo, batera a todas as portas e assim se afizera à humilhação e à esmola; a ser mal recebido, a ouvir repostadas que ferem e despedidas bruscas. Os amigos, que a princípio lhe davam para o rebaixar, falavam-lhe agora com pedras na mão:

– Volte depois! É de mais! Isto sempre não pode ser, você abusa!

As suas melhores horas eram as do sono, profundo, de poço, em que ao deitar mergulhava logo. Esses pedaços de vida, furtados à desgraça, em que se não pensa, sem sonhos, dum profundo aniquilamento, eram o único gozo do Gebo. E tanto mais a desgraça o abalava, tanto maiores eram os seus cuidados, mais absoluto o seu sono. Ao contrário da mulher, que quase não dormia e levava a noite inteira a cismar e a chorar, ele, logo caído na cama, logo tombava como morto.

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Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 67

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154