A AVENTURA DO DETECTIVE MORIBUNDO Mrs. Hudson, a senhoria de Sherlock Holmes, era uma mulher paciente. Não apenas o seu primeiro andar era invadido a todas as horas por grupos de pessoas singulares e, muitas vezes, indesejáveis, como também o seu notável inquilino evidenciava uma excentricidade e irregularidade de vida que punham cruelmente à prova a sua paciência. A sua incrível desarrumação, à sua mania de tocar a horas impróprias, o treino ocasional de revólver dentro de casa, as suas estranhas e, com frequência, malcheirosas experiências científicas e a atmosfera de violência e perigo que o rodeava faziam dele o pior inquilino de Londres. Em compensação, Holmes pagava-lhe principescamente. De certeza que Holmes poderia ter-lhe comprado a casa com o que lhe pagou pelo primeiro andar durante os anos em que vivi com ele.
A senhoria olhava-o com assombro e reverência e não se atrevia a interferir nas suas actividades, por muito insuportáveis, que fossem. E gostava dele, também, pois Holmes lidava com as mulheres de modo extremamente gentil e cortês. Desconfiava das mulheres, não gostava delas, mas era sempre um adversário galante. Sabendo como Mrs. Hudson sinceramente o prezava, ouvi com ansiedade a sua história, um dia que ele me apareceu em casa, ia eu no meu segundo ano de casado, a expor-me a triste situação a que o meu amigo se vira reduzido.
- Está a morrer, Dr. Watson, Há três dias que perde forças e não sei se passará de hoje. Não me deixa chamar um médico. Esta manhã, quando vi os ossos a romperem-lhe a cara e os seus grandes olhos brilhantes a fitarem-me, não pude mais. «Quer o senhor queira quer não, Mr. Holmes, vou chamar um médico, e já!», disse-lhe.
