Capítulo II – A Exposição do CasoA Menina Morstan entrou na sala com passo firme e uma visível compostura de maneiras. Era uma jovem loura, baixa, graciosa, bem enluvada e vestida com muito bom gosto. Havia, contudo, uma certa modéstia e simplicidade no trajar que sugeriam meios limitados. O vestido era de um bege-acinzentado e sombrio, sem enfeites, e o pequeno turbante tinha a mesma tonalidade triste, aliviada apenas pela sugestão de uma pena branca sobre um dos lados. O rosto não apresentava feições regulares nem beleza de compleição, mas a expressão era doce e amigável. Uns grandes olhos azuis irradiavam singular espiritualidade e simpatia. Entre as muitas mulheres que conhecera, em muitos países espalhados por três continentes, nunca vira um rosto que sugerisse mais claramente uma natureza refinada e sensível. Foi-me impossível não notar, quando ela se sentou, que os lábios e as mãos lhe tremiam. Apresentava todos os sinais de intensa agitação interior.
- Vim ter consigo, Sr. Holmes - disse ela -, porque uma vez ajudou a minha patroa, a Sr.ª Cecil Forrester, a deslindar uma pequena complicação doméstica. Ela ficou muito impressionada com a sua gentileza e habilidade.
- A Sr.ª Cecil Forrester... - repetiu ele pensativamente. - Creio que lhe prestei um pequeno serviço. O caso, porém, se bem me lembro, era muito simples.
- Ela não o considerava assim tão simples. Mas, pelo menos, não pode dizer o mesmo do meu. É difícil para mim imaginar algo mais estranho, mais completamente inexplicável, que a situação em que me encontro.
Holmes esfregou as mãos e os seus olhos brilharam.
Inclinou-se para a frente na cadeira com uma expressão de extraordinária concentração sobre o rosto de nítido perfil aquilino.