- Perceberam uma única palavra? - perguntava o chefe de escritório. - Com certeza não está a tentar fazer de nós parvos?
- Oh, meu Deus - exclamou a mãe, lavada em lágrimas -, talvez ele esteja terrivelmente doente e estejamos a atormentá-lo. Grete! Grete! - chamou a seguir.
- Sim, mãe? - respondeu a irmã do outro lado. Chamavam uma pela outra através do quarto de Gregório.
- Tens de ir imediatamente chamar o médico. O Gregório está doente. Vai chamar o médico, depressa. Ouviste como ele estava a falar?
- Aquilo não era voz humana - disse o chefe de escritório, numa voz perceptivelmente baixa ao lado da estridência da mãe.
- Ana! Ana! - chamava o pai, através da parede para a cozinha, batendo as palmas, chama imediatamente um serralheiro!
E as meninas corriam pelo corredor, com um silvo de saias - como podia a irmã ter-se vestido tão depressa?-, e abriam a porta da rua de par em par. Não se ouviu o som da porta a ser fechada a seguir; tinham-na deixado, evidentemente, aberta, como se faz em casas onde aconteceu uma grande desgraça.
Mas Gregório estava agora muito mais calmo. As palavras que pronunciava já não eram inteligíveis, aparentemente, embora a ele lhe parecessem distintas, mais distintas mesmo que antes, talvez porque o ouvido se tivesse acostumado ao som delas.