Auto da Índia - Cap. 5: Parte IV Pág. 17 / 22

Parte IV

MOÇA

Ando dizendo entre mi

Que agora vai em dous anos

Que eu fui lavar os panos

Além do chão d’Alcami.

E logo partiu a armada

Domingo de madrugada.

Não pode muito tardar

Nova se há-de tornar

Nosso amo pera a pousada.

AMA

Asinha?

MOÇA

Três anos há

Que partiu Tristão da Cunha.

AMA

Quant’eu ano e meo punha.

MOÇA

Mas três e mais haverá.

AMA

Vai tu comprar de comer.

Tens muito pera fazer,

Não tardes.

MOÇA

Não, senhora;

Eu virei logo nessora

Se m’eu lá não detiver.

AMA

Mas que graça que seria,

Se este negro meu marido

Tornasse a Lisboa vivo

Pera minha companhia!

Mas isto não pode ser;

Que ele havia de morrer

Somente de ver o mar.

Quero fiar e cantar,

Segura de o nunca ver.

Moça, regressando da rua:

MOÇA

Ai, senhora! venho morta:

Nosso amo é hoje aqui.





Os capítulos deste livro