- Tome o meu último ouro - balbuciou Danglars estendendo-lhe a carteira - e deixe-me viver aqui, nesta caverna; já não peço a liberdade, só peço que me deixem viver.
- Sofre muito? - perguntou Vampa.
- Oh, sim, sofro, e cruelmente!
- Pois há homens que ainda sofreram mais do que o senhor.
- Não acredito.
- Pois pode acreditar. Aqueles que morreram de fome.
Danglars pensou no velho que, durante as suas horas de alucinação, via através das janelas do seu pobre quarto gemer no seu leito.
Bateu com a testa no chão e gemeu.
- Sim, é verdade, há quem tenha sofrido ainda mais do que eu, mas esses ao menos eram mártires.
- Está pelo menos arrependido? - perguntou uma voz sombria e solene, que fez eriçar os cabelos na cabeça de Danglars.
O seu olhar enfraquecido procurou distinguir os objectos e viu atrás do bandido um homem envolto numa capa e oculto na sombra de uma coluna de pedra.
- Arrependido de quê? - balbuciou Danglars.
- Do mal que fez - disse a mesma voz.
- Oh, sim, estou arrependido, estou arrependido! - gritou Danglars.
E bateu no peito com o punho emagrecido.
- Então perdoo-lhe - disse o homem, tirando a capa e dando um passo para se colocar debaixo da luz.
- O conde de Monte-Cristo! - exclamou Danglars, mais pálido de terror do que estava um momento antes de fome e miséria.
- Engana-se, não sou o conde de Monte-Cristo.
- Quem é então?
- Sou aquele que o senhor vendeu, entregou, desonrou; sou aquele cuja noiva o senhor infamou; sou aquele que o senhor calcou para se erguer até à fortuna; sou aquele cujo pai o senhor fez morrer de fome, que condenou a morrer de fome, e que no entanto lhe perdoa porque necessita de ser também perdoado, sou Edmond Dantès!
Danglars soltou apenas um grito e caiu prosternado.
-Levante-se - disse o conde. - Tem a vida salva. A mesma sorte não tiveram os seus dois outros cúmplices: um enlouqueceu e o outro morreu! Guarde os cinquenta mil francos que lhe restam e que lhe ofereço; quanto aos seus cinco milhões roubados aos hospícios, já foram restituídos por mão desconhecida. E agora coma e beba; esta noite é meu hóspede.
Vampa, quando este homem estiver refeito, será livre.
Danglars permaneceu prosternado enquanto o conde se afastava.
Quando levantou a cabeça só viu uma espécie de sombra desaparecer no corredor, diante da qual se inclinavam os bandidos.
Como o conde ordenara, Danglars foi servido por Vampa, que lhe mandou trazer o melhor vinho e os mais belos frutos da Itália, e que, depois de o meter na sua sege de posta, o abandonou na estrada encostado a uma árvore.