O patrão abanou a cabeça.
- Ouça, patrão Baldi, há um meio de conciliar tudo – interveio Jacopo. - Partam e deixem-me com o ferido que eu trato dele.
- E renunciarás à tua parte na divisão para ficares comigo? - perguntou Edmond.
- Renuncio e sem pesar - respondeu Jacopo.
- Bom, tu és um excelente rapaz, Jacopo - disse Edmond. – Deus recompensar-te-á a tua boa vontade; mas não preciso de ninguém, obrigado. Um dia ou dois de repouso pôr-me-ão bom e espero encontrar nestes rochedos certas ervas muito boas contra as contusões.
E um sorriso estranho passou pelos lábios de Dantès.
Apertou a mão a Jacopo com efusão, mas manteve-se inabalável na resolução de ficar e de ficar sozinho.
Os contrabandistas deixaram a Edmond o que ele pediu e retiraram-se, não sem se virarem várias vezes e fazerem de cada vez que se viravam sinais de um cordial adeus, ao qual Edmond respondia apenas com a mão, como se não pudesse mexer o resto do corpo.
Depois, quando desapareceram, murmurou rindo:
- É estranho que seja entre tais homens que se encontram provas de amizade e actos de dedicação.
Em seguida arrastou-se com cuidado até ao alto de um rochedo que lhe ocultava o aspecto do mar e de lá viu a tartana acabar de aparelhar, levantar ferro, balançar-se graciosamente como uma gaivota prestes a levantar voo e partir.
Passada uma hora, tinha desaparecido por completo. Pelo menos do sítio onde ficara o ferido era impossível vê-la.
Então Dantès levantou-se, mais rápido e ligeiro do que os cabritos que saltavam por entre as murtas e os lentiscos, naqueles rochedos selvagens, pegou na espingarda com uma das mãos e na enxada com a outra e correu para a rocha onde terminavam os entalhes que descobrira nos rochedos.
- E agora - gritou, lembrando-se da história do pescador árabe que lhe contara Faria -, agora:
«Abre-te, Sésamo!»