O conde pousou suavemente a mão no braço da jovem, puxou-lhe até ao pescoço a colcha de veludo e disse com um sorriso paternal:
- Minha filha, confie na minha dedicação como confia na bondade de Deus e no amor de Maximilien.
Valentine pousou nele um olhar cheio de reconhecimento e permaneceu dócil como uma criança debaixo da colcha que a cobria.
Então o conde tirou da algibeira do colete a caixinha de esmeralda onde guardava as suas drágeas, abriu a tampa de ouro e deitou a mão direita de Valentine uma pastilhazinha redonda, do tamanho de uma ervilha.
Valentine pegou-lhe com a outra mão e olhou o conde atentamente. Havia nas feições daquele intrépido protector um reflexo da majestade e do poder divinos. Era evidente que Valentine o interrogava com a vista.
- Sim - respondeu ele.
Valentine levou a pastilha à boca e engoliu-a.
- E agora, até breve, minha filha - disse o conde. - Vou tentar dormir, porque está salva.
- Vá - disse Valentine. - Seja o que for que me aconteça, prometo-lhe não ter medo.
Monte-Cristo conservou durante muito tempo os olhos fitos na jovem, que adormeceu pouco a pouco, vencida pela força do narcótico que o conde acabava de lhe dar.
Então, este pegou no copo, despejou três quartas partes do seu conteúdo na chaminé, para que se pudesse crer que Valentine bebera o que faltava, e voltou a pô-lo em cima da mesa-de-cabeceira. Em seguida dirigiu-se para a porta da estante e desapareceu, depois de lançar um derradeiro olhar a Valentine, que adormecia com a confiança e a candura de um anjo deitado aos pés do Senhor.