Quis meter o braço na cama, junto do corpo; mas o braço só lhe respondeu com a rigidez medonha que não podia enganar uma enfermeira.
A mulher soltou um grito horrível.
Depois, correu para a porta a gritar:
- Socorro! Socorro!
- Quem é que pede socorro? - perguntou do fundo da escada a voz do Sr. de Avrigny.
Era a hora a que o médico tinha o hábito de vir.
- Quem está a pedir socorro? - gritou a voz de Villefort, o qual saiu precipitadamente do seu gabinete. - Não ouviu gritar por socorro, doutor?
- Ouvi, ouvi. Subamos - respondeu Avrigny. - Subamos depressa ao quarto de Valentine.
Mas antes de o médico e o pai entrarem, os criados, que se encontravam no mesmo andar, nos quartos e nos corredores, anteciparam-se-lhes e, vendo Valentine pálida e imóvel na cama, levantaram as mãos ao céu e cambalearam como se sentissem vertigens.
- Chamem a Sr.ª de Villefort! Acordem a Sr.ª de Villefort! - gritou o procurador régio da porta do quarto, no qual parecia não se atrever a entrar.
Mas os criados, em vez de obedecerem, olhavam para o Sr. de Avrigny, que entrara, correra para Valentine e a erguia nos braços.
- Mais esta!... - murmurou, deixando-a cair. - Oh, meu Deus, meu Deus, quando vos cansareis?!
Villefort entrou no quarto.
- Que diz o senhor, meu Deus? - gritou, erguendo as mãos ao céu. - Doutor!... Doutor!...
- Digo que Valentine morreu! - respondeu Avrigny, numa voz solene e terrível na sua solenidade.
O Sr. de Villefort caiu de joelhos como se as pernas se lhe tivessem partido e escondeu o rosto no leito de Valentine.
Ao ouvirem as palavras do médico e os gritos do pai, os criados, aterrados, fugiram soltando imprecações abafadas. Ouviram-se nas escadas e nos corredores os seus passos precipitados, depois grande movimento nos pátios e em seguida mais nada; o ruído extinguiu-se. Do primeiro ao último, tinham abandonado a casa maldita.
Neste momento, a Sr.ª de Villefort, com um braço meio metido na manga do roupão, levantou a tapeçaria. Por um instante permaneceu no limiar, com ar de quem interroga os presentes e procurando chamar em seu auxílio algumas lágrimas rebeldes.
De súbito deu um passo, ou antes um salto em frente, com os braços estendidos para a mesa.
Acabava de ver Avrigny inclinar-se curiosamente sobre o móvel e pegar no copo que estava certa de ter despejado durante a noite.
O copo encontrava-se um terço cheio, precisamente como estava quando ela despejara o seu conteúdo nas cinzas.
O fantasma de Valentine erguido diante da envenenadora produziria menos efeito sobre ela.