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Capítulo 13: Capítulo 13

Página 90

Avitória do Chrysus assegurara aos árabes a conquista da Espanha inteira, porque o desalento entrara em todos os corações, e o terror quebrara todos os brios. O duque de Cantábria, Pelágio, fora o único em cuja alma não morrera inteiramente a esperança. Errante pelos cerros quase inacessíveis que se elevam no extremo oriental da Galécia e que, passando ao norte da Cartaginense, vão entroncar-se no vulto gigante dos Pirenéus, o mancebo não dobrara a cerviz ao fado cruel que pesava sobre seus irmãos. Poucos o haviam seguido naquela vida quase selvagem: mas esses poucos eram homens a quem a aura da liberdade parecia a única atmosfera em que seus pulmões robustos poderiam resfolegar; homens a cujos olhos as afrontas da cruz derribada do cimo das catedrais seria espectáculo incrível e insuportável. Uma caverna servia de paço ao jovem rei das montanhas e de templo ao Crucificado. Os domínios do Pelágio eram as serranias e os vales profundos onde, porventura, até então nunca soara a voz humana. O urso ferocíssimo, o javali indomável, a leve corça abasteciam a grosseira mesa desses godos a quem a desgraça e a vida dura das solidões fizera mais feros, mais indomáveis e mais ligeiros do que eles. Às vezes, Pelágio e os seus soldados desciam das montanhas para largas correrias, semelhantes à tempestade nocturna, e, como a tempestade, passavam pelas tendas dos árabes ou pelas aldeias, despovoadas de cristãos, onde os infiéis começavam a fazer assento. Alta noite ouvia-se aí um gemer de moribundos, via-se o brilhar do incêndio. Era o bulcão do deserto que rugia por lá. Ao amanhecer tudo estava tranquilo; porque, bem como a procela, Pelágio era repentino e destruidor, e só escrevia na terra com os caracteres sanguinolentos de ruínas e mortes a notícia da sua quase invisível passagem.

Não assim Teodemiro. Depois da batalha, os restos das tiufadias desbaratadas haviam-no proclamado sucessor de Roderico. Era de ferro e de espinhos a coroa que se lhe oferecia sobre a campa do Império Godo. Aceitou-a; porque em aceitá-la havia mais abnegação que orgulho.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 90

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176