A morte de Afonso VI, rei de Leão e Castela, quase no fim da primeira década do século XII, deu origem a acontecimentos ainda mais graves do que os por ele previstos no momento em que ia trocar o brial de cavaleiro e o ceptro de rei pela mortalha com que o desceram ao sepulcro no Mosteiro de Sahagún. A índole inquieta dos barões leoneses, galegos e castelhanos facilmente achou pretextos para dar largas às suas ambições e mútuas malquerenças na violenta situação política em que o falecido rei deixara o país. Costumado a considerar a audácia, o valor militar e a paixão da guerra como o principal dote de um príncipe, e privado do único filho varão que tivera, o infante D. Sancho, morto em tenros anos na batalha de Ucles, Afonso VI alongara os olhos pelas províncias do império, buscando um homem temido nos combates e assaz enérgico para que a fronte lhe não vergasse sob o peso da férrea coroa da Espanha cristã. Era mister escolher marido para D. Urraca, sua filha mais velha, viúva de Raimundo, conde de Galiza; porque a ela pertencia o trono por um costume gradualmente introduzido, a despeito das leis góticas, que atribuíam aos grandes e até certo ponto ao alto clero a eleição dos reis. Entre os ricos homens mais ilustres dos seus vastos estados, nenhum o velho rei achou digno de tão elevado consórcio. Afonso I de Aragão tinha, porém, todos os predicados que o altivo monarca reputava necessários no que devia ser o principal defensor da Cruz. Por isso, sentindo avizinhar-se a morte, ordenou que D. Urraca apenas herdasse a coroa desse a este a mão de esposa.