Falavam em voz alta, e pareciam seguir um caminho contrário ao seu, aproximando- se do vau, enquanto o cavaleiro se afastava dele. Talvez o perseguiam. Este pensamento, que lhe ocorreu, o fez parar subitamente. Apesar de conhecer que mal poderia resistir àquele tropel de homens de armas, não receava um combate nocturno; mas era-lhe necessário evitar toda a demora em volta ao arraial do infante, a fim de poder cumprir o que prometera a Dulce. Assim, descavalgando do ginete e levando-o de rédea manso e manso, aproximou-se da ribeira junto da qual o arvoredo e mato eram mais frondosos e bastos, afastando-se da senda por onde forçosamente os almogaures haviam de passar no caso de transporem o vau.
No momento em que o trovador guerreiro chegou a uma balça, na qual era quase impossível ser descoberto, à luz cintilante das estrelas as armas dos que vinham ladeando o rio reluziram na margem fronteira. Pareciam altercar entre si e, como a corrente era estreita, Egas, que se conservava calado e quedo, pôde facilmente escutá-los.
Aquele tropel de homens de armas era uma quadrilha, ou piquete, como hoje diríamos, que Garcia Bermudes enviara para rodear exteriormente as barreiras e obstar à fuga dos que pudessem esquivar-se à vigilância dos atalaias e roldas. A disputa que o trovador ouvira tinha-se alevantado entre o coudel dos besteiros de cavalo e um cavaleiro seguido de dez lanças, o qual acaudelava toda a quadrilha.
– A la fé, dom coudel – bradava o cavaleiro –, que não deveis passar o vau. Já vo-lo disse: a ordem do alferes-mor é que rodeemos o burgo e o castelo a dois tiros de besta das barreiras. Segui-me, ende, se vos praz.