Tudo esqueceria na edificação de um castelo do século XI ou XII menos um bom e sólido cárcere, com troneiras bem estreitas e engradadas de grossas barras de ferro. Às vezes os aposentos eram mal reparados contra as injúrias das estações e os muros débeis e pouco vigiados; mas a masmorra sumida debaixo de torre maciça, escassamente alumiada, com seus alçapões de grosso carvalho, suas entradas ocultas, por onde em muitas ocasiões os nobres alcaides e senhores iam, não sentidos, praticar as atrocidades que se lêem nas memórias daquela época, e a que ordinariamente dava origem a vingança ou a cobiça; esse aposento de angústia, dizemos, nunca deixava de ser construído com primor. O cárcere do castelo era quase sempre uma propriedade mais valiosa e produtiva que todas as terras, vilas, herdades e direitos anexos àqueles ninhos de pequenos tiranos: era uma espécie de laboratório de alquimia verdadeira, onde a pobreza de judeu, jurada e tresjurada pela toura, se convertia em chuva áurea; os argais ou trouxas dos bufarinheiros ingleses ou italianos se derretiam como se fossem de cera, e aquelas abóbadas, frias e húmidas, fossem de metal candente e até os alforges do devoto monge ou do venerável clérigo se convertiam em escarcela bem provida de gastador prestameiro. As prisões dos lugares afortalezados que coroavam diferentes cabeços de Galiza e Portugal eram uma espécie de providência que, em casos apertados, acudia milagrosamente aos donos ou tenentes desses lugares, quando os concelhos vizinhos sabiam defender as suas tulhas e adegas, ou os acostados do fidalgo casteleiro murmuravam por falta das soldadas, ameaçando abandoná-lo indefenso à revindicta dos outros nobres com quem trazia guerra de homizio.