O conde de Trava acertara nas suas previsões: o ajuntamento da cúria fora longo e tempestuoso. Os parciais da rainha, isto é, aqueles cujo poder e ambição se estribavam na influência do conde, patentearam aí, com toda a energia e afecto, a sua inabalável fidelidade à filha de Afonso VI, à qual eles não podiam quebrar seu preito sem se cobrirem de opróbrio; por outra parte, aqueles que tinham já posto a mira em alcançarem do moço infante as alcaidarias, os meirinhados, as tenências e os cargos da corte, acesos no santo amor da justiça, pugnavam para que a ele se entregasse a herança paterna. Era a luta da consciência de uns contra a consciência dos outros, combate desgraçadamente trivial em todas as épocas de dissensões civis, e de que só é culpada a Providência por assim colocar os bandos sob o jugo de persuasões opostas, e estreitá-los entre o desejo da salvação das suas almas e a cruel necessidade de serem inimigos e perseguidores de compatrícios e irmãos, com grande e interior mágoa sua, como nós e o leitor perfeitamente sabemos costuma acontecer em tais casos!
Dos ricos-homens, cavaleiros e clérigos, portugueses por nascimento, que ainda não seguiam abertamente o pendão de Afonso Henriques, alguns neste momento decisivo mostraram a sua resolução firme de confiar na fortuna de D. Teresa; mas a maior parte voltava-se para o sol que nascia, tudo por amor da boa terra de Portugal. Entre os primeiros, nas violentas altercações da cúria, se haviam distinguido os dois infanções, Aires Mendes e Pedro Pais, entre os segundos o Lidador, que cumpriu o que prometera a Martim Eicha.