Obanquete que pôs termo ao memorável dia do ajuntamento solene dos barões e senhores de Portugal prolongou-se até alta noite. D. Teresa tinha aí aparecido rodeada de todo o esplendor real. Num estrado sobranceiro ao pavimento da sala, e debaixo de dossel formado das telas mais ricas saídas dos teares de Jaén e da Valência, a bela infanta viera presidir ao banquete dos seus ricos-homens. Assentada em uma cadeira, à qual o espaldar primorosamente lavrado de bestiães e arabescos e os braços e supedâneo dourados davam o aspecto de um trono, a rainha de Portugal, da mesa que tinha ante si e em que particularmente era servida, enviava ora a um, ora a outro cavaleiro notável por sua linhagem, influência ou renome, alguma das iguarias mais delicadas, que rapidamente faziam suceder umas às outras os peritos cozinheiros do paço de Guimarães, quase todos mouros, ou servos ou libertos. Estas provas de distinção eram sempre acompanhadas de graciosas mensagens, que lisonjeavam o amor-próprio dos nobres senhores. Escusado talvez fora dizer que semelhante distinção a mereciam só aqueles que no conselho, por seu voto ou opiniões, se haviam mostrado firmes na causa da mãe contra o filho. Para aqueles que, como Gonçalo Mendes, se tinham mostrado parciais do infante, apenas lançava a rainha um olhar rápido, em que se misturava a cólera e ao mesmo tempo o desprezo, como se previsse já a hora do triunfo e, por consequência, do castigo. D. Teresa, que desde a partida de seu filho se mostrara triste, abatida e irresoluta, parecia nesta noite reassumir toda a sua antiga energia. No seu rosto, banhado de uma alegria algum tanto forçada, conhecia-se-lhe o desejo de que lhe cressem o ânimo tranquilo ao aproximar da procela.