Depois de acabado o banquete, quando os cavaleiros começaram a derramar-se pelas salas esplendidamente adornadas dos paços de Guimarães, e a descer aos pátios onde os cavalariços os esperavam com os cavalos deles e dos seus acostados e pajens, Fr. Hilarião, receoso de um novo encontro de Gonçalo Mendes com Veremudo Peres, o qual teria provavelmente consequências que naquela melindrosa conjunção era necessário evitar, com tal arte soube reter o violento rico-homem na sala de armas que, ao descer ao terreiro interior, este começara a estar deserto, porque mais de uma hora tinha passado. Aí mesmo ainda o abade procurava, parando, demorar a saída do cavaleiro com intermináveis reflexões e perguntas sobre os receios e esperanças que agitavam todos os ânimos. No meio, porém, da manhosa conversação do velho monge um caso inesperado veio interrompê-la.
O vasto pátio que precedia o palácio estava apenas alumiado pela luz afastada de uma almenara, colocada no eirado da agigantada torre alvarrã, e pelo ténue reflexo de dois fogaréus que ardiam aos lados da ponte levadiça. A claridade dos dois fachos, atravessando por baixo do portal soturno, ia bater somente no átrio da escadaria que dava comunicação para a sala de armas. De um e de outro lado do terreiro as trevas pareciam profundas aos que seguiam da escada ao portal por aquela espécie de estrada de luz, mas por isso mesmo estes eram perfeitamente vistos por quem quer que estivesse de uma ou de outra parte.