Conforme a promessa que fizera ao homem do zorame, Gonçalo Mendes ao subir para a sala do banquete, encontrando aí entre os seus acostados Odório Fromarigues, que nessa ocasião se achava na corte, lhe ordenara partisse imediatamente a todo o correr do cavalo para a terra da Maia, e convocando oitenta acobertados e sessenta peões os tivesse a ponto com caldeira e pendão, para cumprir as ordens que brevemente lhe havia de comunicar. Receando que o vílico cometesse alguma imprudência, nada mais lhe fizera saber, resolvido a enviar no dia seguinte um cavaleiro que devia acompanhar aquela mesnada, ou força, como hoje diríamos, até o arraial do infante.
Tanto o Lidador como o abade haviam seguido o vílico para o sítio que ele parecia buscar com toda a precaução. Chegados a um canto escuro entre a sacada interior de uma torre e a escada que subia para o adarve da quadrela contígua, o vílico parou, voltando-se para os dois.
– Porque não partiste? – perguntou o cavaleiro. – Que mistérios são estes?
– Não pude – respondeu o velho. – Os vigias, roldas e sobrerroldas têm as mais estreitas ordens para não deixarem passar além das barbacãs do burgo ninguém; seja quem for: o próprio conde de Trava não é exceptuado. Entre os homens de armas correm várias notícias. Se acreditarmos o que se diz...
Aqui o vílico hesitou e calou-se.
– Que é o que se diz? – acudiu o Lidador depois de alguns momentos, impaciente com o silêncio de Odório Fromarigues.
– Que – prosseguiu o velho ainda hesitando – há conjurados contra a rainha dentro de Guimarães; e ousam pronunciar o nome de um dos mais ilustres e leais ricos-homens de Portugal como o cabeça e movedor da conjuração.
– E cujo é esse nome? – insistiu com voz firme o Lidador.
– É... – tornou o vílico em tom quase imperceptível – é o vosso!