O Feliciano ficou espavorido quando a mulher, num dos paroxismos epiléticos, se pôs a rir para ele com os olhos espasmódicos e a chamar-lhe José, seu josezinho. Passada a nevrose, quando ela imergia num torpor físico e mental, o marido contou-lhe o caso de lhe chamar josezinho. Ela parecia esforçar-se muito para recordar-se, e dizia que não se lembrava de nada. Vinha o cirurgião a miúdo: - que era histerismo, e consolava o marido com a esperança no tal rapagão, esperanças bem fundadas, segundo as confidências do pai; mas, consultado pelo padre Osório, o pedrosa, um grande clínico, dizia que a brasileira não tinha simplesmente a gota coral; que havia ali epilepsia complicada com delírio, alienação mental intermitente, um estado de inconsciência ou consciência anormal, e que verdadeiramente se não podiam determinar bem quais eram os seus actos de lucidez intercorrente.
- Ela está grávida - observou o vigário de Caldelas. - parece que este facto denota uma tal ou qual normalidade de consciência, uma conceção racional dos deveres de esposa...
- Não denota nada - refutou o médico. - faça de conta que é uma sonâmbula. E, como a sua demência é funcional e não orgânica, não há desorganizações físicas que a estorvem de ser mãe. O meu colega que lhe assistiu à última vertigem disse-me que, alguns minutos antes do ataque, ela, numa grande irritabilidade, lhe dissera que fugia para Vilalva, que queria ver o José dias... O marido felizmente fora nessa ocasião prover-se de vinagre à despensa. Eu considero-a perdida, a menos que se lhe não dê uma pronta e completa diversão ao espírito, e nem assim se consegue senão temporariamente deserdar os desgraçados que tiveram mãe e avó como esta marta. Eu assisti ao primeiro e ao último período de Genoveva.