Pois deixemos correr o marfim, e mais o simulacro... Que palpem - e, pondo as duas mãos engalfinhadas sobre o umbigo proeminente, fazia girar um dedo polegar à volta do outro. Que o que fosse soaria, e não caísse o mano Zeferino na estultícia de se comprometer sem que os generais portugueses saíssem à rua.
Na correnteza destas coisas, o Zeferino das lamelas não trabalhava de pedreiro; abandonou as obras de alvenaria aos oficiais, e andava numa dobadoira de casa do padrinho para casa do tenente-coronel realista, o vasco Cerveira leite, morgado de quadros, um homem nascido ilustremente, que, desde Évora monte, não cortara as barbas nem saíra das ruínas da casa-solar em Vermoim.
Como a sua paixão era inconsolável com o destino, deu-se à distração do álcool; e, porque tinha a consciência da sua miséria de bêbedo, fechava-se no seu quarto, onde às vezes caía amodorrado sobre o vómito. Imbecilizara-se. Cerveira tinha sofrido um ataque cerebral, quando o brigadeiro José urbano de carvalho infamemente se passara com alguns esquadrões de cavalaria para o centro da divisão do duque da terceira, na chamusca. Ele vira o seu coronel António Cardoso de Albuquerque dar vivas à carta constitucional e a D. Maria II. Achou-se arrastado, ilaqueado e prisioneiro, quando procurava abrir com a espada uma sepultura honrosa. Ali se extinguira coberto de opróbrio, naquela hora, o bravo e leal regimento de chaves, que nunca dera um desertor para as fileiras do inimigo. O tenente-coronel, desde esse dia, foi um desgraçado incompreendido que se embriagava para esquecer o reviramento súbito da sua carreira. Depois, a corrente travada das misérias. Tinha filhos que se emborrachavam como ele, e filhas que se namoravam dos engenheiros das estradas, e andavam pelas romarias de roupinhas escarlates, com botinas de ponteira de verniz e chapéus desabados de seda preta com borlas e plumas.