Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 6: CAPÍTULO V

Página 47
Quanto ao pai, esse, antes de jantar, era taciturno, casmurro, como quem se esforça por sacudir um pesadelo; e, de tarde, sumia-se para recomeçar as suas visões luminosas intercetadas pelas trevas momentâneas da razão. Não se sabe o que ele pensava da mulher.

Admitia pouca gente na sua casa e pouquíssima à sua presença. Além dos caseiros que lhe pagavam as grossas rendas de vila do conde, de Esmoriz e são Cosme do vale, apenas recebia o pedreiro das lamelas, que lhe fizera os canastros e reconstruíra algumas paredes desabadas. Conhecia-lhe o pai, o alferes, desde a b atalha de ponte ferreira. Mandava-lhe botijas de genebra e maços de cigarros; - que bebesse, que se embebedasse, que os tempos não iam para outra coisa. E o alferes com vaidade de fino:

- A quem ele o vem dizer!

Ultimamente, falavam muito da chegada do Sr. D. Miguel – “o meu velho amigo”, dizia o Cerveira, pondo as mãos no peito e os olhos no teto.

- Venha ele, e ver-me-ás, Zeferino, à frente dos meus dragões de chaves! - relampagueava-lhe então as pupilas e fazia largos gestos marciais, com o braço trémulo como se brandisse a espada, rompendo um quadrado; montado na fantasia, arqueava as pernas, descaía o tronco sobre um imaginário cavalo empinado e bufava com trejeitos ferozes. Era de um ridículo lacrimável. O Zeferino dizia ao pai que às vezes lhe tinha medo quando ele fazia aquelas partes.

- O vinho do porto é o diabo! - dizia o alferes com uma grande experiência dessas façanhas incruentas - é o diabo!

O Zeferino, na volta de santa marta de Bouro, contou-lhe o que soubera em casa do capitão-mor. O tenente-coronel quis imediatamente partir para Lanhoso; mas não tinha roupa decente para se apresentar a el-rei. As fardas estavam traçadas, podres, com um bafio de rodilhas no fundo de uma arca; dos galões restava um tecido esbranquiçado com laivos verdoengos; o casco das dragonas esfarinhou-se-lhe nas mãos roído pelos ratos.

<< Página Anterior

pág. 47 (Capítulo 6)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Brazileira de Prazins
Páginas: 202
Página atual: 47

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO I 9
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 21
CAPÍTULO IV 32
CAPÍTULO V 46
CAPÍTULO VI 52
CAPÍTULO VII 59
CAPÍTULO VIII 67
CAPÍTULO IX 74
CAPÍTULO X 84
CAPÍTULO XI 101
CAPÍTULO XII 113
CAPÍTULO XIII 121
CAPÍTULO XIV 130
CAPÍTULO XV 141
CAPÍTULO XVI 157
CAPÍTULO XVII 166
CAPÍTULO XVIII 173
CAPÍTULO XIX 182
CAPÍTULO XX 190
CONCLUSÃO 196