Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 10: CAPÍTULO IX

Página 78
aurora quando a passarada do arvoredo se esvoaçou piando, alvorotada pelo estrondo das coronhadas à porta principal, e uns berros formidáveis:

- Abra! Abra! Senão vai dentro a porta!

O abade saltou da cama, espreitou por uma fresta das portadas, e viu um cordão de soldados, a olharem para as janelas, e com as baionetas nas espingardas. Correu descalço para a sala contígua à alcova do hóspede, e encontrou-o no meio da quadra, em fralda, a enfiar as calças, quase às escuras, com a respiração ansiada.

- Que é? - regougou o homem numa estrangulação de susto, muito ofegante.

- Tropa, senhor, tropa! Fuja depressa, que eu vou esconder vossa majestade na adega antes que arrombem a porta.

As coronhadas e as intimações ameaçadoras repetiam-se. Uma algazarra de inferno. Vozes roucas pediam machados e ferros do monte. A senhorinha, muito esganiçada, expetorava agudos ais na cozinha; não acertava a enfiar o saiote pelo direito. Os cães de castro laboreiro, muito ferozes, arremetiam às portas com a dentuça refilada. Porcos grunhiam dando bufidos espavoridos. A jovem dos recados chamava a sua mãe santíssima e a alma da tia Jacinta do Reimundles, que estava inteira na igreja. Dois criados da lavoura, estranhos ao segredo do real hóspede, como estavam recrutados, cuidaram que a tropa os vinha prender; enterraram-se nos fenos do palheiro, prometendo esmolas de quartinho ao bom jesus do monte e ao mártile são trocatles, se os livrassem daquela. Entretanto, o outro, de chinelos de tapete, guiado pela mão do abade até à cozinha, passou daqui para a adega, que a criada abriu com muita subtileza. Havia lá dentro um recanto encoberto por duas pipas vazias, postas ao alto; pela convexidade das aduelas e entre as pipas e a parede, abria-se um vácuo onde cabia à vontade um homem.

<< Página Anterior

pág. 78 (Capítulo 10)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Brazileira de Prazins
Páginas: 202
Página atual: 78

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO I 9
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 21
CAPÍTULO IV 32
CAPÍTULO V 46
CAPÍTULO VI 52
CAPÍTULO VII 59
CAPÍTULO VIII 67
CAPÍTULO IX 74
CAPÍTULO X 84
CAPÍTULO XI 101
CAPÍTULO XII 113
CAPÍTULO XIII 121
CAPÍTULO XIV 130
CAPÍTULO XV 141
CAPÍTULO XVI 157
CAPÍTULO XVII 166
CAPÍTULO XVIII 173
CAPÍTULO XIX 182
CAPÍTULO XX 190
CONCLUSÃO 196