Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 9: Capítulo 9

Página 55

Mariana, a filha de João da Cruz, quando viu seu pai pensar a chaga do braço de Simão, perdeu os sentidos. O ferrador riu estrondosamente da fraqueza da moça, e o académico achou estranha sensibilidade em mulher afeita a curar as feridas com que seu pai vinha laureado de todas as feiras e romarias.

– Não há ainda um ano que me fizeram três buracos na cabeça, quando eu fui à Senhora dos Remédios, a Lamego, e foi ela que me tosquiou e rapou o casco à navalha – disse o ferrador. – Pelo que vejo, o sangue do fidalgo deu volta ao estômago da rapariga!… Estamos então bem aviados! Eu tenho cá a minha vida, e queria que ela fosse a enfermeira do meu doente… És, ou não és, rapariga? – disse ele à filha, quando ela abriu os olhos, com semblante de envergonhada da sua fraqueza,

– Serei com muito gosto, se o pai quiser.

– Pois, então, moça, se hás-de ir costurar para a varanda, vem aqui para a beira do senhor Simão. Dá-lhe caldos a miúdo, e trata--lhe da ferida; vinagre e mais vinagre, quando ela estiver assim a modo de roxa. Conversa com ele, não o deixes estar a malucar, nem escrever muito, que não é bom quando se está fraco do miolo. E vossa senhoria não tenha aquelas de cerimónia, nem me diga à Mariana – a menina isto, a menina aquilo. É – rapariga, dá cá um caldo; rapariga, lava-me o braço, dá cá as compressas – e nada de políticas. Ela está aqui como sua criada, porque eu já lhe disse que se não fosse o pai de vossa senhoria já ela há muito tempo que andava por aí às esmolas, ou pior ainda. É verdade que eu podia deixar-lhe uns benzinhos, ganhos ali a suar na bigorna há dez anos, afora uns quatrocentos mil réis que herdei de minha mãe, que Deus haja; mas vossa senhoria bem sabe que, se eu fosse à forca ou pela barra fora, vinha a justiça, e tomava conta de tudo para as custas.

– Se vossemecê tem uma casinha sofrível – atalhou Simão – pode, querendo, casar a sua filha numa boa casa de lavoira.

<< Página Anterior

pág. 55 (Capítulo 9)

Página Seguinte >>

Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 55

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139