Apeou Mariana defronte do mosteiro, e foi à portaria chamar a sua amiga Brito.
– Que boa moça! – disse o padre capelão, que estava no raro lateral da porta, praticando com a prioresa acerca da salvação das almas e de umas ancoretas de vinho do Pinhão que ele recebera naquele dia e do qual tinha engarrafado um almude para tonizar o estômago da prelada.
– Que boa moça! – tornou ele, com um olho nela e outro no raro, onde a ciumosa prioresa se estava remordendo.
– Deixe lá a moça, e diga quando há-de ir a servente buscar o vinho.
– Quando quiser, senhora prioresa; mas repare bem nos olhos, no feitio, naquele todo da rapariga!…
– Pois repare o senhor padre João – replicou a freira – que eu tenho mais que fazer.
E retirou-se com o coração malferido, e o queixo superior escorrendo lágrimas… de simonte.
– Donde é vossemecê? – disse brandamente o padre capelão.
– Sou da aldeia – respondeu Mariana.
– Isso vejo eu; mas de que aldeia é?
– Não me confesso agora.
– Mas não faria mal se se confessasse a mim, menina, que sou padre…
– Bem vejo.
– Que mau génio tem!…
– É isto que vê.
– Quem procura cá no convento?
– Já disse lá para dentro quem procuro.
– Mariana!, és tu?! Anda cá!
A moça fez uma cortesia de cabeça ao padre capelão, e foi ao locutório donde vinha aquela voz.
– Eu queria falar contigo em particular, Joaquina – disse Mariana.
– Eu vou ver se arranjo uma grade: espera aí.
O padre tinha saído do pátio, e Mariana, enquanto esperava, examinou, uma a uma, as janelas do mosteiro. Numa das janelas, através das reixas de ferro, viu ela uma senhora sem hábito.
– Será aquela? – perguntou Mariana ao seu coração, que palpitava – Se eu fosse amada como ela!…
– Sobe aquelas escadinhas, Mariana, e entra na primeira porta do corredor, que eu lá vou – disse Joaquina.
Mariana deu alguns passos, olhou novamente para a janela onde vira a senhora sem hábito, e repetiu ainda:
– Se eu fosse amada como ela!…