Conseguiu o comprometimento de um empregado do correio, Carlos empregou nesta missão um vigia insuspeito.
No dia do correio, uma velha, mal trajada, pediu a carta n° 628. O que a entregou fez um sinal a um homem que passeava no corredor, e este homem seguiu de longe a velha até ao campo de Santo Ovídio. Feliz das vantagens que lucrara em tal comissão, correu a encontrar-se com Carlos. É ocioso descrever a precipitação com que o enamorado mancebo, espiritualizado por algumas libras, correu à indicada casa. Em honra de Carlos, é necessário dizer que aquelas libras representavam a eloquência com que ele tentaria mover a velha em seu favor, por isso que, à vista das informações que tivera da pobreza da casa, concluiu que não era ali a residência de Henriqueta.
Acertou.
A confidente de Henriqueta fechava a porta da sua baiuca, quando Carlos se aproximou, e muito urbanamente lhe pediu licença para dizer-lhe duas palavras.
A velha, que não podia recear alguma agressão traiçoeira aos seus virtuosos oitenta anos, franqueou os umbrais da sua pocilga, e prestou ao seu hóspede a cadeira única do seu camarim de tecto de vigas e pavimento de lajes.
Carlos principiou como devia o seu ataque. Lembrado da chave com que Bernardes manda fechar os sonetos, aplicou-a à abertura da prosa, e conheceu de pronto as vantagens de ser clássico, quando convém. A velha, quando viu cair no regaço duas libras, sentiu o que nunca sentira a mais carinhosa das mães, com dois filhinhos no colo. Luziram-lhe os olhos, e dançaram-lhe os nervos em todas as evoluções dos seus vinte e cinco anos.
Feito isto, Carlos precisou a sua missão nos seguintes termos:
“Esse pequeno donativo, que lhe faço, há-de ser repetido, se vossemecê me fizer um grande serviço, que pode fazer-me.