– Um quê, homem? – Um crianço, que pesquei no rio.
– Tu estás tolo, Bernardo?
– Aqui o tens tal qual o topei engasgalhado num amieiro, berço e tudo. Olha que desgraça, ó Isabel!
A mulher benzeu-se; foi buscar a candeia; convenceu-se que era uma criança viva, pôs as mãos, olhou para o céu com profunda mágoa, e exclamou:
– Ó homem, o mundo está a acabar!
– Dá-lhe o peito quanto antes, senão o mundo acaba-se para ele. Aqui to deixo, que eu vou contar aos fidalgos este caso.
– Ai! – exclamou ela examinando a criança – é uma menina e ainda não tem cortada a invide!
Queria dizer que ainda não estava ligado o cordão umbilical. Isabel tinha a ciência prática da mãe de onze filhos, todos nascidos sem mais auxílio que o do seu homem e da sua serena coragem naquele acto. Confessava-se na véspera, comungava de madrugada, e depois, com o maior sossego da alma e muita conformidade com as dores, matava uma galinha e dizia ao marido:
– Vamos a isto, Bernardo.