CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO Agora, leitores, no dobar de quinze anos, vejam de um relance de olhos a situação dos personagens desta narrativa. O abade de Espinho, em 1832, era dedo num dos mais pingues cabidos de Portugal. Solicitava então uma mitra no ultramar, com bons auspícios de lhe ser dada. Constou que a nomeação estava caminho de Roma, quando, vencida a causa do infante, o deão de *** emigrou para Roma, esporeado pelo receio da retaliação de algum dos dois Monizes, vindos para o Porto na expedição da Terceira. Viveu regalado e gordo até 1840, em Roma, onde morreu aos 55 anos de idade. Por descuido dos fantasmas que costumam atormentar os pecadores nas derradeiras vascas, o ex-deão Leonardo Botelho de Queirós morreu, pouco mais ou menos, como um justo, consentindo que o confessassem e ungissem. Legou os seus sacos de ouro e prata aos expatriados que lhe assistiram na doença. A nenhum cabedal, que ele fazia da sua alma, infere-se da sovinaria do testamento quanto a sufrágios. Ali, no seio e na cabeça do catolicismo, nem sequer mandou que lhe rezassem duas missas, nem uma! E morreu sem visões de larvas que o houvesse naquele leito! Quer-me parecer que os fantasmas têm medo de certos moribundos.
Eugénia Pimentel, desoprimida do sogro, saboreava-se em delícias maternais, educando sua filha Matilde, galante menina de 14 anos que já estava prometida a um titular da Beira.
Bernardo Moniz vivia em Luanda, advogado com grandes créditos e medianos lucros, conhecido pelo Dr. Paulo de Campos. Nunca se desfez do pseudónimo, porque os legítimos nome e apelido soavam repugnantes aos ouvidos dos mesmos liberais que tacitamente aprovavam a justiça infligida aos dez cobardes assassinos dos lentes. Quando Bernardo Moniz sondou