CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS Para lá vamos, disse Alexandre Pimentel.
Foram. O bacharel formado requereu uma delegacia, documentando a petição com as cinco certidões dos seus prémios. Esperado - respondeu o ministro da Justiça. Requereu um lugar subalterno na Secretaria do Reino. Esperado - respondeu o ministro do Reino. Requereu pela Marinha a diretoria de uma alfândega no ultramar; requereu por todas as repartições, desde auditor até escrivão de direito. Esperado: era o escarro que expectoravam os ministros nos diplomas de Alexandre Pimentel.
D. Ricardina estava pobre. Moravam num quarto andar da Rua dos Calafates. O casaco de Alexandre mostrava as coçadas costuras. A senhora não ia à missa à míngua de sapatos. O filho, beijando as lágrimas da mãe, dizia-lhe:
- E os meus prémios?... Se o pergaminho tivesse mais consistência, fazíamos sapatos dos diplomas, minha mãe... Não chore, não chore, que eu amanhã começo a ganhar um cruzado.
- Em quê, meu filho? - acudiu a mãe.
- Vou ser revisor e tradutor num jornal político. É trabalho de noite. Depois, assim que puder vestir-me, vou praticar advocacia; e, assim que souber vender conselhos e tirar ladrões e assassinos das garras da Justiça, a minha posição e a sua melhoram.
Assim aconteceu, quanto à primeira parte do seu programa. De tradutor e revisor, ao fim de quinze dias, afidalgou-se com o foro grande do artigo de fundo. Rebateu a política do Governo, num ponto controvertido de direito prático, obtida prévia licença do redator-em-chefe. Os seus artigos, remunerados pela admiração geral, e vitoriados pelo silêncio dos contendores, fizeram o prodígio de lhe erguer o estipêndio a novecentos e sessenta réis diários!
Alexandre, entregando a sua