CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO Nos jornais de Lisboa apareceu o seguinte anúncio: O jurisconsulto que se considerar capaz de auxiliar o trabalho de outro, que se propõe escrever a História da Legislação na Península Hispânica, dirija-se à Rua de S. Francisco nº 6, casa onde reside Alexandre Pimentel. Oferece-se remuneração correspondente ao serviço.
Este anúncio fez rir.
- Não há nada mais pedante! - O sábio a convidar oficiais para o fabrico de uma droga porque as tendas suspiram! - O dinheiro do visconde da Gandarela, a mais sincera carruagem que viu Lisboa, convertido em livros de ciência do direito dos Ostrogodos! Escouceia na tua campa, indignado arcabouço de visconde!
Falava assim o chiste do Marrare, algum tanto mais salgado que o espírito salitroso dos sábios não poluídos em botequins. O primeiro homem que acudiu ao convite era um sujeito de cabelos brancos, feições indicativas de juventude gentil, bem assombrado, modestamente vestido. O anunciante recebeu-o afavelmente; e do interrogatório delicadamente feito inferiu que o concorrente era bacharel em Direito, e advogado nas possessões portuguesas de África desde 1829 até 1851, época em que voltara para Portugal.
Explicou-lhe Alexandre o seu plano de trabalho. As observações do pretendente denunciaram ao jovem que o sujeito não era hóspede em pontos pouco versados na advocacia.
- Onde fez as suas leituras? - perguntou Alexandre.
- Nas bibliotecas fradescas de Luanda.
- Transferiu-se Vossa Senhoria a Luanda provavelmente emigrando em 1828?
- Sim, senhor.
- E não quis voltar logo que a liberdade foi restaurada?
- Inércia, indiferença e esperança nenhuma. Retirei há um ano, porque as doenças climatéricas me impossibilitavam de advogar.
- Ainda não tive o prazer de saber o nome de vossa Senhoria.