- Ricardina é viva!
- Diz-lho o seu filho!
- Foge-me a razão!... Deixai-me viver, meu Deus! Deixai-me vê-la, Virgem do Céu!... - exclamava Bernardo bracejando amparado pelo filho, que o não deixava sair do leito.
De súbito, ao violento escabujar, seguiu-se uma convulsão, depois umas brandas tremuras, e após elas o quebranto precursor de um acesso febril. Alexandre saiu a dar ordens que se chamassem médicos. Voltou para a beira do leito onde Norberto estava chorando e abraçou o velho, que lhe perguntava:
- Pois o senhor é na verdade filho da minha querida fidalga? E ela está viva? Mal haja seu avô, que me disse que estava morta! Tantos séculos esteja no Inferno como lágrimas chorou seu pai!... Fui eu que lhe levei a notícia a Espanha! Mal haja eu também, que me fiei naquele carrasco! Pois se ele me disse: “Essa mulher morreu!”. Que havia eu de pensar? Fui a Oviedo, e disse ao Sr. Bernardo: “A Sr.ª D. Ricardina morreu!”. Ai senhor! Eu não sei como este infeliz está ainda vivo!... O que ele tem penado há vinte e quatro anos!... Pois o senhor é filho da fidalga? - tornava Norberto, querendo levantar nos braços Alexandre, com infantis carícias. - Ela, a minha querida senhora, já sabe que o Sr. Bernardo Moniz está vivo?
- Não.
- Ai! que ela em o sabendo, é fácil morrer de alegria!... Mas quem nos diz a nós que o Sr. Bernardo não morre?
- Não morro, meus amigos... - murmurou o enfermo, resfolegando ardente bafagem. - Não morro; mas tua mãe... pode morrer, filho!
- Hemos de salvá-la ambos, meu pai!