CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... Bernardo Moniz e o filho combinavam preparar o lance, modificando-lhe o perigo da repentina surpresa. Eram eles os menos aptos para combinação que demandava grande sossego de alma. Bernardo não sofreava os ímpetos da impaciência fogosa de vê-la. A cada instante desvairava as refleções do filho interrompendo-lhas com perguntas alusivas à vida de Ricardina. Neste conflito, Norberto Calvo, depois de ouvir longo tempo calado as razões de pai e filho, disse:
- Quem há de tratar disso sou eu.
- Ainda agora serás tu o nosso salvador, Norberto? - perguntou Bernardo, estendendo os braços para o velho.
- Vamos a isso... - disse o Calvo resolutamente.
E expôs em seguida o seu plano, que foi aplaudido.
Bernardo Moniz vestiu-se tiritando calefrios. Não houve sustê-lo, porque a sua saída fora condicionada no plano de Norberto. Entrava Alexandre em casa quando a esposa e a mãe o esperavam inquietas e receosas da extraordinária demora.
- Ó filho! - exclamou a viscondessa - Tardaste tanto!
- Se tu soubesses... se a minha mãe soubesse em que mãos estava o retrato!... Era um velho que diz ter sido muito amigo do meu pai.
- Algum condiscípulo dele? - perguntou D. Ricardina.
- E não to deu? Não trazes o retrato?
- Está aí o homem que o tinha.
- Como se chama? - disse a mãe.
- Eu vou mandá-lo entrar.
- Então vamos à sala? - perguntou a viscondessa.
- Não é de cerimónias o sujeito. Eu conduzo-o para aqui.
- Quem será? - disse Ricardina à sobrinha. - Olha que estou a tremer, filha!
- Bem vejo! Mas porque treme?
- Eu sei!
Levantou Alexandre o reposteiro da antecâmara da sua mãe. Entrou primeiro o ancião, vestido com a sua farda de sargento, com o boné sobraçado e as mãos nas algibeiras.