Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 10: CAPÍTULO X - A SORTE

Página 60

O corregedor gritou pelo meirinho geral e deu voz de preso ao abade. Cercou-o possante quadrilha de águazis, que o levou às boas para a cadeia. A favor do padre saíram incontinente o bispo D. Alexandre Lobo, à frente dos fidalgos da sua cor política. Manteve-se o magistrado integerrimamente, instaurando processo ao petulante ameaçador dos homens constituídos no sacerdócio da justiça.

Em 22 de Fevereiro ainda estava preso o abade de Espinho, à espera, desde o fim do mês anterior, que o citassem para julgamento. Era um tigre em jaula, remetendo sanhudo às grades, e revolvendo-se no leito da insónia, ou recruzando a saltos o estreito pavimento do seu recinto.

- Eu hei de sair de aqui um dia! - rugia ele aos seus visitantes. - Hei de nadar em sangue!

No dia 24, chegou a notícia a Viseu do desembarque do regente D. Miguel, logo aclamado rei absoluto. Sabido isto, ordenou o abade que lhe abrissem as portas da cadeia. O carcereiro não reconheceu a legitimidade da ordem. Neste no meio o previsto corregedor ia entrouxando para o caso urgente da fuga.

No dia 30, chegou a nova de ter sido formado novo ministério, em que entrou o bispo D. Alexandre, protetor do abade. Divulgada a noticia, o corregedor sumiu-se, e o padre Leonardo cobrou a liberdade. Para Coimbra é que o ódio lhe atirava as esporadas mais penetrantes. Recorreu às novas autoridades, requerendo a captura de Bernardo Moniz. O vice-reitor Pinheiro, figadal inimigo dos liberais, lançou espias ao académico e não logrou mínima prova ou sequer indício. O abade insistia, e as autoridades recusavam-se à perseguição, talvez temerosas dos congressos demagogos de alguns centenares de académicos. Este medo condizia com um assalto de embuçados que cercaram o abade, por noite, debaixo das torres da Sé Velha, e lhe fizeram lampejar perto dos olhos as lâminas dos punhais, intimando-o a sair de Coimbra.

<< Página Anterior

pág. 60 (Capítulo 10)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 60

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177