Digam-me agora se o seu pai quererá para genro o filho de um lavrador, ainda que ele seja muito rico e muito bom rapaz!
- Mas a mãe já nos disse - contraveio Eugénia - que o tio Sebastião Pimentel lhe mandara oferecer para esposa a prima Matilde.
- É verdade; mas agora te digo que o teu pai quando tal soube, reprovou a baixeza do tio Sebastião, notando que noutro tempo os pintores só entravam nas casas nobres para retratarem os donos... Repito que desgraçada inclinação foi a tua, Ricardina, se a razão não puder mais que o amor. Pobre filha! - prosseguiu a mãe, encarando-a com os olhos cheios de lágrimas, e o coração de lembranças da sua paixão única, primeira, e, desde muito, morta! - Pobre filha, não sei o que te hei de dizer, nem fazer no teu favor, senão pedir-te que distraias as preocupações desse rapaz! Fazes-lhe grande bem, se o desenganares; porque teu pai é ainda o homem que sempre foi. Se souber que Bernardo é causa de rejeitares teu primo, o que aí não irá!... É capaz de... que sei eu!
Ricardina prorrompeu em choro cortado de soluços tão ansiosos que todas as carícias maternais não lograram aquietá-la.
Neste lance, a porta do quarto abriu-se de repelão. O abade assomou no limiar. Mãe e filhas estremeceram por igual. Caminhou para elas mesuradamente, nem risonho nem severo. Olhou de frecha Ricardina, que não ousava encará-lo. Depois, voltando-se a D. Clementina, disse com boa sombra:
- Não disseste a esta senhora o que eu era capaz de fazer, se Bernardo estorvasse o casamento dela com o seu primo. Digo-to eu, Ricardina. O que primeiro farei é avisá-lo de que eu não sou homem que o avise duas vezes. O jantar na mesa!
Saiu. Ricardina parecia trespassada de um frio que a empedernira.