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Capítulo 22: XXII - Felicidade suprema

Página 123
XXII - Felicidade suprema

Em abril de 1850, Ângela e Joana, sentadas no quintalinho de sua casa, debaixo duma amendoeira florida, ao entardecer, descansavam do trabalho do bastidor de que tiravam bons lucros em bordados de ouro.

Joana, embelezada na formosura de sua amiga, dizia-lhe:

- Como vossa excelência, nesta pobreza, ganhou o que tinha perdido na opulência da sua casa! É bem certo que a felicidade está em mui pouco! Eu a temer que a Sr.ª D. Ângela envelhecesse nestas estreitezas da nossa casa, e não se habituasse a isto; e quis Deus que, em dez meses, eu a não visse triste senão quando veio a primeira carta do meu Francisco...

- Pois olhe, minha amiga, eu estava agora triste...

- Por quê?! Vi-a calada; mas cuidei que não era tristeza...

- Era...

- E é segredo?

- Não, minha amiga... Segredos quando eu não posso distinguir as nossas almas uma da outra... Eu lhe conto... Estava a dizer comigo: o meu futuro qual será? Tenho vinte e nove anos. Se me recordo do que passei, imagino que a vida já é longa e deveria estar por pouco; mas, diante de mim, vejo os anos demorados daqui até à velhice, até aos sessenta anos da nossa Vitorina, que espera ainda viver até os oitenta. Muito se vive quando se sofre!... E o que mais espanta é que nem a desesperação infunda um sincero desejo de morrer... Aqui estou eu a lastimar-me, a perguntar o que há de ser de mim, a ver a precisão de se acabar esta sossegada vida que tenho; e, apesar do escuro das minhas nenhumas esperanças, desejo viver... para quê?

- Deus lho irá dizendo, minha senhora. Se eu dissesse à minha amiga que esperasse resignada, seria uma indiscreta conselheira. Quem pode dar lições mais sublimes de paciência que a Sr.ª D. Ângela?

- Paciência, sim; não me há de abandonar esta providência dos infelizes.

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pág. 123 (Capítulo 22)

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 123

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174