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Capítulo 5: V - Considerações plásticas

Página 20
V - Considerações plásticas

D. Ângela já descia as escadas, encaminhando-se à administração, quando foi intimada a comparecer em juízo. Pela primeira vez, em sua vida de vinte e seis anos, encarava um oficial de justiça, cujo semblante carregado e voz cavernosa a traspassou de susto. O esbirro caminhava de par com ela, dando ao ato uma solenidade policial que fez espanto nos lojista vizinhos. Alguns enviaram os marçanos na cola da pálida mulher de Fialho, e ficaram conjecturando, com variadas hipóteses, por que iria capturada a vizinha.

O administrador, ao ver Ângela, ergueu-se em respeitosa postura, postergando o estilo costumado nesta ordem de funcionários, cujo lance de olhos é sempre fulminante, denotando, nos vincos da fronte severa, a carranca da justiça que os anima e afeia.

Esta desusada urbanidade do magistrado pode explicá-la a beleza de Ângela. A condição dum administrador de bairro, no exercício de suas funções, não há aí compêndio de civilidade que a pula e amacie tanto como uns olhos meigos que obrigam a respeito e amor quando intentam somente pedir comiseração.

A esposa de Hermenegildo Fialho, se não era formosa para causar assombros, tinha direito a ser considerada uma das mais galantes esposas de brasileiros, os quais, naquele tempo, eram os usufrutuários mais ou menos exclusivos das peregrinas burguesas do Porto.

Ângela não era portuense, como oportunamente se dirá; mas, no rosado sadio da musculatura e redondez das formas, pertencia à espécie de beleza sólida e tanto ou que patriarcal que distinguia e avantajava, sobre todas, as senhoras da cidade eterna de há quinze anos para além. E, como vem de molde, deixarei aqui em estilo lamentoso uma saudade à memória daquela raça forte de mulheres quase extinta, e já hoje representada por suas filhas, dessoradas no ambiente impuro dos colégios, e adelgaçadas por uma alimentação francesa que lhes depauperou a opulência do sangue herdado.

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 20

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174