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Capítulo 11: XI - Sonhos e esperanças

Página 55
XI - Sonhos e esperanças

Como foi que a vigilância dos dois anjos-custódios de Ângela deixaram passar a primeira carta?

Denunciaremos à moral pública certa fragilidade do estudante.

O escrever-lhe não constava do programa; nem isso era mister para homem que se abastava com o ideal encontro no silêncio das noites estreladas. E, de feito, ele não escrevia cartas à imitação de umas que o vulgo mais seleto escreve, e suja e profana nas mãos encodeadas dum aguadeiro.

Francisco, no calado da noite, voltava contemplativo e vagaroso da costa marítima, ou descia dos pinhais cerrados de Agra. Aquelas noites estivas da gentilíssima Niana, que se reclina à beira-mar, sob um pavilhão de verdura, e se remira no espelho do seu Lima, são noites para poetas, e poetas se fazem ali súbito inflamados por tantas maravilhas da natureza, raro cumuladas num só paraíso. Debaixo de céu tão inspirativo, e terra tão espontânea de murmúrios, de músicas, de perfumes, de silêncios que se entendem e ouvem no coração, ali, onde não se faz mister a forma para adorar a ideia, é que o poeta de Ângela adorava ideia e forma também, apesar dos seus incorpóreos devaneamentos.

Na volta da montanha ou das ribas do mar, continuava os sonhos, à lâmpada do seu quarto, e escrevia-os, justamente num caderno com frontispício que dizia SONHOS.

O merceeiro viu, uma vez, a costaneira com o estranho título; abriu-a, leu duas linhas, fechou-a como os filólogos modernos em consciência deviam fechar os códices coptas, e disse à esposa:

- Teu irmão está ali, está doido. Escreve de dia os sonhos que tem de noite. Pobre moço!

Joana foi ver também. Leu e entendeu muito pela rama.

Aconteceu perguntar D. Ângela à sua mestra de bordar o que fazia o irmão, quando não lia.

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 55

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174