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Capítulo 14: XIV - Via dolorosa

Página 68
XIV - Via dolorosa

Passaram dois anos, e somos chegados ao de 1840.

Alteração notável no viver de Francisco José da Costa não há nenhuma. É ainda amanuense de tabelião. Joana continua a trabalhar para as modistas; mas, cansada e doente, rende-lhe pouquíssimo o louvor.

O viver de Ângela é mais angustiado. Vitorina já vendeu tudo que valia dinheiro. A ama não tem que vender, porque sua tia Beatriz negou-lhe algumas jóias que o pai lhe havia dado, sem impedimento de terem sido de D. Maria d’Antas. Os escrúpulos de beata não iam ao extremo de repulsarem os braceletes e correntes da pecadora.

Vitorina já aceita as esmolas de Rita de Barrosas, e as liberalidade de outras senhoras que delicadamente favorecem a sobrinha de Cassilda de Noronha - freira opulenta, como depositária e herdeira in mente dum dom abade de beneditinos, rolado ao inferno por intermédio duma hidropisia.

Ângela ignorou algum tempo a sua deplorável dependência. Era, contudo, forçoso adivinhá-la, e inferi-la das tristezas da criada. Animou-se para entrar ao fundo da sua miséria, e soube que estava indigente.

Vencida pela desesperação, escreveu ao pai, invocando a memória de sua mãe. Péssimo expediente! Vitorina quis dissuadi-la da invocação; mas era-lhe doloroso, tendo de explicar a inconveniência, contar a uma filha a desastrada morte de Maria d’Antas. A carta foi; mas a resposta não veio.

Pensava Ângela sem sair do mosteiro e ir ajoelhar-se diante do pai. Constou o intento. A prelada, com boas palavras, lhe desfez o plano, dizendo-lhe que só poderia sair com ordem de sua tia ou do Sr. arcebispo de Braga.

- Mas minha tia ou o Sr. arcebispo não me deixarão morrer à necessidade? - perguntou Ângela debulhada em lágrimas.

A prelada, comovida, respondeu:

- A menina não há de morrer à necessidade.

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pág. 68 (Capítulo 14)

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 68

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174