VII Francisco de Lucena recebeu com espanto semelhante carta.
Bernardo da Silva embruteceu-se ao ler a sua.
João Leite deu quatro murros numa mesa, e sentiu-se suspenso no ar por uma legião de demónios raivosos.
Cada um fez seu papel; mas todos três reunidos deviam formar um grupo digno da melhor caricatura inédita!
Francisco de Lucena correu ao locutório do mosteiro, e fez ali aparecer imperiosamente a filha.
Quis forçá-la a declarar o nome do homem que a preocupara até a fazer má filha. Não lhe arrancou a menor revelação. Foi por outro caminho para chegar ao seu fim. Fez-se sentimental; lamentou, como com pai, as paixões invencíveis duma filha que se preza com extremo carinho; contou histórias análogas, que acabavam todas por casamentos desiguais, mas nem por isso menos venturosos. Pediu a sua filha o nome desse homem que a impressionara, e fez-lhe antegostar a possibilidade de casar-se, se não viesse dali uma absoluta desonra para a sua família.
O amor faz heróis, mas também faz patetas. Eulália desceu da sua altiva energia ao raso da toleima. Declarou o nome...o nome de quem? O nome, sem nome, do enjeitado, do aprendiz de alfaiate, do lacaio, do escudeiro!...
Que horror!
Nunca se viu um solavanco mais desamparado que o salto de tigre que Francisco de Lucena deu contra a grade que o separava da filha! Por Deus! Que a esgana se lhe chega! A pobre menina arrepiada como quem vê um lobo com as faces vermelhas, e as unhas recurvas, foge pelo dormitório, e fecha-se no quarto.