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Capítulo 2: I

Página 2
I

Bernardo Silva era um filho bastardo de um pobre de Viseu. Do ventre materno passou à roda dos expostos e daí aos cuidados duma pobre mulher d'aldeia.

Aos dez anos não conhecia pai; e sua mãe, mulher do povo, arrastada sobre a lama da plebe toda a sua vida, morrera com o segredo do nobre, que se dignara descer até ela para honrá-la com desonra.

Bernardo, aos dez anos, era aprendiz de alfaiate, e de todos os seus companheiros era ele o mais desprezado, porque também era o mais preguiçoso.

O rapaz vivia triste como se a idade lhe permitisse compreender a dor imensa dum grande desastre. Lá dentro daquele coração infantil falava uma profecia fúnebre. Com os olhos sempre extáticos no horizonte negro do seu futuro, o pobre rapaz não tinha uma hora livre para o trabalho. Muitas vezes uma bofetada acordava-o daquele letargo; e o braço, que estava suspenso com a agulha, continuava a tarefa molhada de lágrimas.

Aos treze anos, era ainda um aprendiz de alfaiate, repelido deste para aquele mestre, desacreditado em todos, e inutilmente espancado por todos. Chamavam-no incorrigível, e ele mesmo conheceu que o era.

Abandonou a agulha, e foi servir em casa de Francisco de Lucena. Era, aí, como em toda parte, conhecido pelo "Bernardo Enjeitado". Nunca ninguém se lembrou, alguma vez, de que um dos seus muitos filhos, atirados à roda, poderia ser seu lacaio.

Bernardo era criado de tábua.

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Capa do livro Uma Praga Rogada nas Escadas da Forca
Páginas: 29
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Os capítulos deste livro:
Prefácio 1
I 2
II 3
III 4
IV 6
V 8
VI 9
VII 11
VIII 12
IX 14
X 17
XI 18
XII 20
XIII 22
XIV 23
XV 26
Conclusão 27