Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 7: VI

Página 9
VI

E o pior era que o tal João Leite, noivo repelido, ficou amando desesperadamente D. Eulália. Ferido no seu amor próprio, e envergonhado de tão má estreia, instava com Francisco de Lucena, lançando-lhe em rosto a imprudência com que viera roubá-lo à sua tranquilidade, não podendo contar com a obediência de sua filha. Esta maneira de acusar vexava Francisco de Lucena, porque era pôr em dúvida o seu poder paternal, e chamar-lhe fraco, imputação que ele odiava, ainda mesmo que se tratasse de vencer a repugnância de uma fraca menina.

Redobravam as mortificações, e Eulália, imóvel como o seu infeliz amor, oferecia-se de bom grado à vingança paternal, mas dizia, em linguagem trágica, que só reduzida a cadáver passaria para a posse do tal miserável, que não tinha vergonha de perseguir uma mulher que o desprezava. O pai realizou o dito popular: "casar, ou meter freira." Eulália optou pelo segundo, e os preparativos para entrar no convento principiaram.

O amor faz a mulher varonil. Temos visto almas de lama apresentarem uma energia corajosa, quando o tónico do amor lhes vibra as cordas embrionárias dum coração, que parece arfar de improviso ao repentino choque, ao rapto da paixão violenta.

Nas vésperas da sua entrada no mosteiro, Eulália escreveu três cartas. Uma a seu pai. Dizia-lhe que amara um só homem, e viveria desse amor desgraçado toda a sua vida.

Outra ao escudeiro. Dizia-lhe que tivesse compaixão dela, e chorasse uma lágrima em troca das que ela chorara, e choraria até a morte.

Outra ao seu implacável pretendente. Dizia-lhe que o amaldiçoava com todo o ódio do seu coração. Que lhe atirara a cara com um não, e nem assim o envergonhara de continuar a perseguir uma mulher.

Esta correspondência conservou-a Eulália até o momento em que transpôs o limiar do convento.

<< Página Anterior

pág. 9 (Capítulo 7)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Praga Rogada nas Escadas da Forca
Páginas: 29
Página atual: 9

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Prefácio 1
I 2
II 3
III 4
IV 6
V 8
VI 9
VII 11
VIII 12
IX 14
X 17
XI 18
XII 20
XIII 22
XIV 23
XV 26
Conclusão 27